Falar para delegados da Pastoral da Juventude de Todo o País é coisa muito séria.
A juventude, dizem os adultos, os velhos, é difícil.
E não quer saber de muitos conselhos.
A juventude existe, sendo que no comentário comum dá a impressão de que não existe mesmo.
É futuro. A juventude quer ser o presente.Herdar o passado, ser o presente para construir o futuro. Conselhos vocês já tem recebidos muitos. E é um vicio de nós, os velhos, dar conselhos a todas horas.Eu gostaria de insistir em alguns aspectos que são de senso comum, ou do senso comum da fé.
Em primeiro lugar firmar a própria identidade. Essa identidade de pessoas humanas. Essa identidade radical, ser humanos, ser humanas.
Contudo, isso significa cultivar a nossa pessoa, as nossas relações básicas. Na família, no trabalho, na sociedade, na comunidade de fé... Firmar a identidade. Saber o que somos.
Há muitas angústias, muitas decepções, muitas revoltas, contra os pais, contra os adultos, professores, contra os educadores, contras os padres, contra os bispos... Essa revolta é fruto de uma identidade não madura, não assumida. E deve existir uma identidade.
Ser o que devo ser para agir como devo agir.
Estamos falando para a juventude cristã. Essa é a segunda identidade que forja a nossa identidade completa: ser cristão, ser cristã. Ser pessoas de fé, pessoas de Evangelho. Não ter vergonha de ser feliz com o evangelho exigente, mas que plenifica a vida.
A Pastoral da Juventude deve ser uma vivência de uma espiritualidade da juventude. Uma espiritualidade forjada na oração, na palavra de Deus, no trabalho, na solidariedade, no engajamento, nas pastorais.
Tem-se de evitar a impressão de que a juventude é uma pastoral que caminha por conta. E as outras pastorais “se virem”.
Vocês podem preencher e devem preencher espaços da pastoral global que sem vocês não seriam preenchidos. Na liturgia, na catequese, na pastoral social, da terra, indígena, da mulher marginalizada, pastoral da criança, Pastoral da comunicação, pastoral da saúde...
Outra idéia importante é fazer tudo, viver tudo comunitariamente.
Quando me perguntaram quantas comunidades de base tem a Prelazia de São Feliz de Araguaia, eu digo “nem sei”. O importante é a comunidade em tudo. Na partilha, na programação, na avaliação, na co-responsabilidade como pessoas humanas, adultas e como igreja. Igreja de Jesus. Se alguém pode e deve viver com paixão a sua identidade são vocês, os jovens. E nessa identidade cristã, uma paixão por Jesus Cristo. Todos os cristãos/cristãs deveriam ler cada ano pelo menos um livro da Cristologia. Redescobrir a pessoa de Jesus. O verdadeiro Jesus, Jesus de Nazaré. De Belém, do Calvário. De Pentecostes. Ele é o Filho de Maria de Nazaré. Ele é o Jesus das Bem aventuranças. O Jesus conflitivo com os poderes políticos, econômicos e religiosos de Israel. O Jesus consolador dos pobres, dos aflitos. O Jesus da Misericórdia. A juventude deve viver sua fé como profecia.
Dom Helder Câmara insistia “Não deixem cair a profecia”. |Todos somos profetas, todos devemos ser. Recordando que ser profeta é anunciar a boa nova. É denunciar o anti-reino e é consolar o povo. Uma pastoral da acolhida, da misericórdia, da solidariedade. Dando esperanças quando reclamam de falta de perspectivas, ou de crise. Nós, os cristãos, temos o direito e o dever de semear, de espalhar esperança. Somos a igreja da Páscoa. E devemos viver com o coração pascal toda a nossa vida.
O bispo Angeleli, mártir na argentina prometia com freqüência ter um coração pascal. A juventude é como ele. Incomoda na casam incomoda na vizinhança, incomoda no trabalho, incomoda na comunidade, a igreja. Ta bom. É parte da missão incomodar no sentido de cobrar, exigir mais coerência, mais radicalidade. Só que devem incomodar sem armagura. Não se tornem doentes episcopalmente. Poder, clero, os padres, o vigário... Devemos ser indignados, mas com militância e com esperança. Uma contribuição da Pastoral da Juventude à nova Igreja que sonhamos. Recorram à Memória dos Mártires. Este ano temos celebrado em São Feliz do Araguaia a Romaria dos Mártires da Caminhada “Testemunhas do Reino”. Isso é que devemos ser todos: Testemunhas do Reino. Testemunhas da causa de Jesus qu é a causa do Pai.
Abraço a todos e a todas vocês.
Eu ando de bengala, caducando um pouco, mas a esperança não caduca.
É digo que Deus é amor. Nós somos amor, egoísmo e medo. Mas também esperança.
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